Pejotização muda relação com o dinheiro e exige planejamento: veja dicas para organizar seu futuro financeiro
O número de profissionais atuando como pessoas jurídicas (PJs) tem crescido significativamente no Brasil. Dados da Fundação Getulio Vargas (FGV) indicam que a pejotização gerou perdas de até R$ 144 bilhões em arrecadação entre 2018 e 2023. Além disso, se metade dos atuais trabalhadores com carteira forem convertidos em PJ, a perda anual pode ultrapassar R$ 384 bilhões. Essa tendência reflete uma mudança no mercado de trabalho, onde muitos profissionais optam ou são levados a atuar como PJs.
No entanto, essa escolha exige uma mudança de mentalidade: quem não é mais CLT precisa assumir a gestão ativa da sua própria vida financeira. “Não existe salário fixo para o PJ. Existe faturamento, sazonalidade, carga tributária e, principalmente, responsabilidade sobre o presente e o futuro”, destaca Caren Benevento, advogada e sócia-fundadora da Benevento Advocacia, também pesquisadora do Grupo de Estudos de Direito Contemporâneo do Trabalho e da Seguridade Social da Universidade de São Paulo (GETRAB-USP).
Esse cenário tem impacto não só na vida do profissional, mas também nas contas públicas. Menos pessoas contribuindo para o INSS significa, no longo prazo, menor capacidade de o sistema previdenciário garantir aposentadorias. “Mesmo com contribuições ao INSS, quem atua como PJ precisa considerar outras formas de garantir estabilidade no longo prazo”, afirma Caren.
Por isso, é fundamental que profissionais PJ incorporem o planejamento patrimonial à sua rotina. Caren elenca cinco pilares para quem quer construir um futuro financeiramente saudável:
01) Defina um pró-labore realista e contribua para o INSS
Mesmo que o faturamento da empresa seja variável, estipular um valor mensal para retirada ajuda a manter previsibilidade e formaliza a base para contribuição previdenciária — seja pelo INSS direto, seja via DAS como MEI ou Simples Nacional.
02) Separe parte da receita para obrigações futuras
Férias, 13º, impostos, contador: tudo isso precisa ser antecipado mês a mês. “Criar uma conta específica para essas provisões é um bom começo para evitar surpresas”, recomenda.
03) Planeje a sucessão patrimonial desde já
A acumulação de bens em nome da empresa ou da própria pessoa física exige atenção. Instrumentos como testamento, holding familiar ou seguro de vida com cláusula de herdeiros podem evitar disputas e garantir tranquilidade.
04) Evite misturar pessoa física e jurídica
Cartões de crédito, contas bancárias e gastos devem ser separados. “A confusão patrimonial pode gerar problemas jurídicos sérios em uma fiscalização ou em caso de falecimento”, explica.
5) Construa reservas próprias para o futuro
Além de contribuir com o INSS, é essencial formar uma reserva independente. Pode ser por meio de previdência privada, investimentos de longo prazo ou mesmo uma poupança com aportes mensais automáticos. “O mais importante é a constância. Sem um plano complementar, o profissional PJ fica vulnerável a imprevistos e à falta de renda na velhice”, afirma Caren.
“No modelo PJ, é comum confundir faturamento com renda disponível. Mas o valor que entra na conta jurídica não é líquido: nele o empreendedor deve pensar que haverá custos com impostos, férias, encargos e provisões. Por isso, sem organização, a falsa impressão de ganho pode comprometer o futuro”, avalia a advogada.